03/08 - 16 A - CONHECENDO BOI DE GUIA – CORA CORALINA

DIA 02 DE AGOSTO DE 2020.




OLÁ ALUNOS, VAMOS ESTA SEMANA CONHECEREMOS UM TEXTO BASEADO NO BOI DE GUIA DE CORA CORALINA QUE EU CITEI NA AULA PASSADA.

VOCÊS PODERIAM PERGUNTAR PARA QUE CONHECER ESSE TEXTO? VOU RESPONDER QUE É POR DOIS MOTIVOS:

1º FOI ESCRITO POR CORA CORALINA E FAZ PARTE DO PRIMEIRO LIVRO DELA “ESTÓRIAS DA CASA VELHA DA PONTE. O MAIS IMPORTANTE É QUE ESSE LIVRO ELA ESCREVEU COM 75 ANOS, SE TORNOU UMA MULHER RELEVANTE NA LITERATURA NACIONAL. SUA MENSAGEM ERA: “NÃO DESISTAM DE SEUS SONHOS”.

 

NESSE BREVE TEXTO QUE ELA ESCREVE, NOS TRANSMITE UMA MENSAGEM QUE É PARA NÓS UMA FONTE DE INSPIRAÇÃO.

2º EM SEU CONTO ELA DESCREVE A VIDA DE UM CARREIRO DE CARRO DE BOI QUE VIVE E TRABALHA NO CAMPO.

 

 

 

 


                                                    BOI DE GUIA

(ADAPTAÇÃO FEITA PELA PROFª. MARILDA BASEADO NO CONTO DE CORA CORALINA)

        O menino tinha nascido e se criado em Ituverava. O pai era um carreiro de confiança, muito procurado para serviços e colheitas. Tinha seu carro de boi antigo, mas muito bem cuidado com ferragens polidas e as madeiras amarradas com cintas de couro na barriga do boi. Quando o carreiro chegava na cidade todos sabiam, pois o rangido das ferragens faziam barulho.

        O pai tinha o carro de boi com animais bem tratados e saudáveis. Era só o que possuía para cuidar da família grande, meninada se formando e sua ferramenta de trabalho – os bois de carro.

        Trabalhava para os fazendeiros principalmente na colheita de café e outros alimentos, meses a fio. Quando acabava o café, era a cana, do canavial para os engenhos.

        Os pais antigos eram duros e criavam os filhos na lei da disciplina. Na roça, criança não tinha infância. Firmava-se nas pernas, entendia algum mandado, já tinha servicinho esperando.

        Aos quatro anos montava em pelo os animais, trazia bezerro do pasto, levava leite na cidade e entregava na freguesia.

        Ele era colocado em cima do cavalo. Se descesse, não subia mais. Punha o litro nas janelas.

        O cavalo em que montava era velho, arrasado manso e sabido. Subia nas calçadas, encostava nos alpendres, conhecia as ruas, desviava-se das buzinas e parava certo nos fregueses.

         Quando de volta, recolhendo a garrafa vazia, gritava desesperadamente:

        -- Garrafa do leite...garrafa vaziiia! ...

        Ajudava o pai. Desde que nasceu, contava ele. Nunca se lembra de ter vadiado como os meninos de agora. Quando começou a entender o pai, a mãe, os irmãos, o cachorro e o mundo do terreiro, já foi fazendo servicinho. Catava lenha fina, para o fogão, ia atrás dos peruzinhos e já quebrava ovos que estivessem estragados. Do pasto trazia os bois. Ele gostava de vim pendurado no chifre do boi Barroso, tão grande, tão forte, mas tão manso.

        Acostumou-se com os bois e os bois com ele. Sabia o nome de todos e os particulares de cada um. Com cinco anos, era mestre-de-guia, com sua varinha argolada.

           O menino ia roçar com seu pai pra todo lado, com sol ou chuva ele ia guiando o Barroso e os outros bois. Ninguém reparava nele, mas ele tinha orgulho de ir à frente do carro de boi.

        A boiada tinha que arar e recolher a plantação. O menino ia na frente, pequeno, descalço, seu chapeuzinho de palha, seu porte franzino, dando o que tinha.

        Sentia nas costas o bafo quente do guia. Sentia no pano da camisa a baba grossa do boi. O pai atrás, gritando os nomes, sacudindo o ferrão.    

         O Barroso alcançou a criança. Quase pisoteou com sua pata pesada o menino, o pai sentiu uma gastura em seu coração. Ele percebeu que por conta do menino sempre tratar bem os bois, ele desviou e não pisoteou.

 

 

                         Cora Coralina. Estórias da casa velha da ponte. 2. ed. São Paulo:

Global, 1988.

 


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